segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

A Montanha Mágica


Em 1912, e após acompanhar a sua mulher num longo processo de tratamento de uma doença pulmonar, Thomas Mann começou a escrever aquele que viria a ser indubitavelmente um dos maiores romances do século XX: A Montanha Mágica.

Num constante deambular entre o realismo e o simbolismo, e acompanhando toda a complexa e profunda história deste romance, o autor traça-nos de uma forma exemplar o cenário vivido na Europa dos anos 10.

Vários são os temas abordados pelo autor nas suas quase 800 páginas (pelo menos na edição que li), desde a doença à sexualidade, a vida, a morte e, talvez mais do que qualquer outro tema, o tempo. Thomas Mann joga com o tempo de várias formas, não só do ponto de vista do conteúdo do discurso das suas personagens (nomeadamente por Hans Castorp, Lodovico Settembrini e, mais tarde, Leo Naphta), mas principalmente usando e abusando de um malabarismo que nos envolve no decorrer da leitura deste romance. Gradualmente - e na mesma medida com que Hans Castorp se adapta à sua nova vida de reclusão - vai-se afastando de um modo narrativo onde dezenas de páginas descrevem a vida de algumas horas da personagem principal, para um ponto onde um simples parágrafo já descreve um ano em Davos, nos Alpes suíços.

A Montanha Mágica é uma experiência que nos acompanha por toda a vida, uma viagem ao âmago mais profundo do ser humano.

sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Um Disco Perdido


Fez 5 anos em Setembro. PJ Harvey celebra o piano na sua vida com um álbum de 11 canções originais. White Chalk apresenta-nos um mundo onde demónios e outros espíritos tomam conta da alma da compositora/performer, um mundo para onde somos arrastados a cada nota daquele piano reverberado. Um universo de pântanos escuros, colinas frias num inverno sem vento e cheio de dias chuvosos.

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Ponte


Uma ponte de betão que fez parte de um imaginário colectivo e de sonhos perdidos. Toneladas de cimento que foram em tempos úteis desintegram-se, fundem-se com o tempo que passa... mas adaptar-nos-emos rapidamente a uma nova realidade.

domingo, 25 de novembro de 2012

A Cidade


Há uma cidade perfeita a morrer no planeta. Uma cidade que para muitos poderá ser o resultado de um conjunto de mentes poluídas, um erro da humanidade, um desperdício de recursos, homens e mulheres enganados a quem um dia lhes foi dado o poder da experimentação. Uma cidade que para mim foi um espaço natural um dia alterado pelo (e para) o Homem, o resultado da luz dos corações e das mentes de outros seres humanos esclarecidos.

A cidade perfeita é circundada pelas ruas da energia, da juventude, da concórdia, rua do parque, do cosmos e pela avenida da paz. E atravessam-na as ruas dos veteranos (da guerra contra a Alemanha Nazi) e dos construtores (da própria cidade).

Na cidade perfeita há trabalho para todos. Não existem casas para ninguém mas sim apartamentos para todos. Há transportes públicos, cafés, lojas, restaurantes, um lago com oito quilómetros de perímetro, centro desportivo, bibliotecas, um hospital e centros de saúde.

A cidade perfeita espera-me. E eu espero ajuda-la na sua luta contra o esquecimento.

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Escolha

1) Um apartamento no frio, num prédio imenso e velho, alto, onde a noite suplanta em muito as tentativas que o dia faz de permanecer quieto. O sol é uma memória. Um homem encosta-se a uma janela e observa o movimento silencioso lá fora, está prestes a vestir dez quilos de roupa, para confortavelmente enfrentar o exterior, na procura da socialização que lhe escapa há muito.

2) Alguns raios de Sol atravessam a atmosfera a uma velocidade incrível, aquecendo uma casa de madeira isolada numa pradaria, algures numa Europa perdida. Melancolia multiplicada por tormentos inexistentes, argumentos impossíveis de reter e relva pura e húmida na cara de quem se deita a descansar. A descansar de uma vida quente... Restam os dias vazios do futuro.

Vou ter de escolher em breve.

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Filme "La Jetée" de Chris Marker


“La Jetée” é uma daquelas experiências cinematográficas que não se esquece. Com apenas meia hora de duração e praticamente circunscrito a uma sequência de fotografias a preto e branco, Chris Marker cria um ambiente que é ao mesmo tempo violento e enternecedor, apoiado pela profundidade da voz do narrador, hipnotizando-nos com cada sílaba da sua voz gasta, intensa e aveludada. A narrativa não segue os padrões lineares habituais, lembra-nos que a nossa memória pode também transportar-nos no tempo (seja para o passado ou para o futuro) libertando-nos da simples e restrita condição humana da vida pontual.

Muito poucos filmes inventam uma nova forma de contar uma história. “La Jetée” faz muito mais que isso. Mostra-nos que toda a tecnologia à disposição do realizador de hoje é inútil e fria quando por trás não se encontra um verdadeiro criador. Marker utiliza uma câmara fotográfica e os seus rolos de 35mm para nos levar através de uma acção que deambula entre a percepção e a memória, entre o amor e a morte, entre a ficção científica e o romance (10 anos antes de “Solaris”, de Andrey Tarkovsky).

Esta é uma história de amor. De um amor que se estende literalmente pelos corredores do Tempo, que aniquila qualquer circunstância presente, qualquer catástrofe que possa cair sobre o Homem ou sobre o mundo. E este é um filme que ficará para sempre.

domingo, 18 de novembro de 2012

Chegada

Cheguei há momentos à aldeia que jazia na neve profunda.