segunda-feira, 29 de abril de 2013
Ladytron - Gravity the Seducer
Três anos volvidos sobre o seu anterior trabalho discográfico, os Ladytron editaram em Setembro de 2011 o quinto álbum de originais “Gravity the Seducer” após a sua formação em 1999 em Liverpool.
Neste último disco a banda continua a explorar a ambiguidade que os caracteriza já desde os seus primeiros passos em “604”, entrando agora mais do que nunca pela abstracção e pelo alheamento de um presente estático. Classificar a música dos Ladytron de electrónica é uma redução tão forte como rotular os Beatles de reis da pop. A componente electrónica serve-lhes de cota de malha debaixo de uma armadura bem construída, leve, e fazendo parte de um tempo incerto, algures entre os anos setenta do século passado e um futuro tecnológico totalitário.
O álbum abre com a faixa “White Elephant”, apresentando desde logo uma tónica diferente do trabalho anterior (“Velocifero”), mais coeso, menos intenso, usando uma sonoridade menos sónica, talvez o mais coerente e bem alinhado disco do quarteto desde “Wiching Hour”.
Ainda que este seja um álbum bastante focado e homogéneo, os Ladytron não deixam de vacilar entre alguns extremos da sua normal abordagem estética, entre o pop glamour de “Mirage” e o pálido melodramático ambiente de “Ambulances”, ou de um “Moon Palace” que traz à memória os uniformes lancinantes de “Light & Magic” até uma faixa como “Ninety Degrees”, o espelho mais polido de um som ao mesmo tempo celestial e gélido, etéreo e emocional, tão característico deste grupo.
Este é, possivelmente, o álbum menos fácil de toda a discografia dos Ladytron, mas não deixa de ser – com toda a certeza – um marco sólido na música europeia de 2011.
quarta-feira, 24 de abril de 2013
Futuro
Uma doce e segura voz feminina ecoa pela galáxia, na direcção de uma planeta habitado. Diz-nos que num futuro paralelo o Homem libertar-se-á do trabalho que o escraviza. Irá dedicar-se apenas - durante duas a três horas por dia - a actividades que contribuam para o bem comum.
O dia de ontem encontra-se, no mínimo, a dois milhões e meio de quilómetros. O amanhã já nos toca a pele, de tão próximo que está, mesmo que a evolução do pensamento seja nestes tempos apenas (ainda) a escrava dos homens.
terça-feira, 9 de abril de 2013
Abetos ou Ciprestes em Linhas Soltas
Aos Abetos: Não vos deixo, não vos quero deixar. Não sei como irei lidar com a vossa ausência, mas não vos quero longe. À distância de um braço tenho a árvore mais alta, uma sequóia podre ou um ramo inalcançável de uma outra espécie qualquer. Mas dentro do meu corpo não tenho mais do que braços partidos de um eixo que o planeta atirou para o céu. Não irei permitir que do meu coração algum dia possa parar de jorrar amor por vós, não serão as outras árvores responsáveis pela destruição do meu cadáver, não vos quero sentir num outro continente, numa ilha do passado, ou num habitat inóspito.
Não quero menos que subir aos vossos ramos, ó Abetos, estilhaçar toda a casca que vos envolve, subir ao mais alto patamar da vossa existência e daí gritar. Gritar com os meus pulmões em sangue, salivar toda a fúria que me provocais a partir do cume da vossa eterna beleza.
Não quero nunca mais dizer um "não". Não quero ser capaz de dizer "não". E quero para sempre falar a língua das árvores.
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