António parou o carro no final da rua. O perímetro da cidade era visível através da luz ofuscante de um Sol vespertino. Prédios abandonados, ruas esburacadas pela passagem das estações e torres de vigia ainda de pé. Atravessou a rua e caminhou por entre os detritos acumulados ao longo do passeio. Dez minutos depois já o suor lhe colava ao corpo aquele ar quente ainda poluído quase irrespirável.
Um parque de estacionamento estendia-se pelo infindável espaço nas costas de um antigo supermercado, onde pequenos veios de erva pintavam de verde os bordos das placas cinzentas do revestimento.
Um mosaico de cores camuflava a entrada de um bunker. Tecidos esquecidos pendurados, eternamente secos, revelavam um mundo habitado num passado levado há muito pelas areias do tempo para uma distância cósmica daquele lugar. A vegetação resistente formava visualmente contornos humanos distintos, o corpo de uma mulher familiar a António.
Um evento único iria ter aqui lugar.
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