segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Filme "La Jetée" de Chris Marker


“La Jetée” é uma daquelas experiências cinematográficas que não se esquece. Com apenas meia hora de duração e praticamente circunscrito a uma sequência de fotografias a preto e branco, Chris Marker cria um ambiente que é ao mesmo tempo violento e enternecedor, apoiado pela profundidade da voz do narrador, hipnotizando-nos com cada sílaba da sua voz gasta, intensa e aveludada. A narrativa não segue os padrões lineares habituais, lembra-nos que a nossa memória pode também transportar-nos no tempo (seja para o passado ou para o futuro) libertando-nos da simples e restrita condição humana da vida pontual.

Muito poucos filmes inventam uma nova forma de contar uma história. “La Jetée” faz muito mais que isso. Mostra-nos que toda a tecnologia à disposição do realizador de hoje é inútil e fria quando por trás não se encontra um verdadeiro criador. Marker utiliza uma câmara fotográfica e os seus rolos de 35mm para nos levar através de uma acção que deambula entre a percepção e a memória, entre o amor e a morte, entre a ficção científica e o romance (10 anos antes de “Solaris”, de Andrey Tarkovsky).

Esta é uma história de amor. De um amor que se estende literalmente pelos corredores do Tempo, que aniquila qualquer circunstância presente, qualquer catástrofe que possa cair sobre o Homem ou sobre o mundo. E este é um filme que ficará para sempre.

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