sexta-feira, 22 de março de 2013

Azul-Lilás


Onde estás, Azul-Lilás, cor forte e pesada que me arruína a epiderme a partir do seu interior? Ainda espero por um arrependimento, um último fôlego que se transformará rapidamente em primeiro, por uma solução doce, por um cântico suave e melodioso, ainda espero por um abraço em harmonia, ainda que toda a nossa existência seja dominada pelo caos, por uma completa ausência de concordância com o mundo exterior.

Onde estás, Azul-Lilás, porque me abates a esperança de ter esperança? Deita-te comigo com o céu estrelado como paisagem. Sonha os meus sonhos, viaja comigo para metade das estrelas da constelação Leão, atravessa comigo as plêiades, leva-me para o teu universo onde tu não és mais a pessoa que foste até hoje. Onde tu és apenas eu. E onde eu sou só e só... tu.

quinta-feira, 21 de março de 2013

Amor e Levocardia


Há um coração dentro do meu corpo com várias cavidades. Aurículas e ventrículos cheios de sangue, fogo e afectos, um engenho explosivo que produz e bombeia hemoglobina em todas as direcções. Esta máquina ensurdecedora não me deixa viver, a cada segundo impulsiona toneladas de amor que se evaporam como azoto aquecido.

quarta-feira, 20 de março de 2013

Precessão dos Equinócios - ou Ausência de Liberdade


A cada 25.800 anos a projecção do eixo da Terra imprime no céu um círculo imaginário, fazendo com que o norte vagueie pelo firmamento ao longo de milénios. Daqui a uns tempos, no ano 14.000, a estrela Vega será quem substituirá a estrela Polar no centro da rotação aparente do céu nocturno do Hemisfério Norte.

Nesses tempos futuros o mundo já não será meu. Os filhos que nunca terei irão dominar o imaginário de nenhum outro Homem, assim como as úlceras eternas do meu coração serão perpétuas em nenhum universo.

Deixo um rasto de destruição pela vida de todos os que me acompanham na Era de Peixes. Prendo dentro de mim uma quantidade interminável de amor, sonhos espalhados por toda a enorme extensão de um planeta médio como o nosso. E para a ausência de liberdade que me caracteriza - e me escoria a pele a partir do interior - tenho apenas duas palavras: és tu.

domingo, 17 de março de 2013

Aldeia Longínqua

Não há lugar dentro de mim para muito mais. Já tudo está ocupado pela presença de um espectro que vive nas imediações do espaço que ocupo. Num mundo irreal partilhamos a criação do universo, ligamo-nos átomo a átomo, juntamos o corpo um do outro para que dali possa surgir um rompimento com o espaço-tempo.

Dentro de um olhar estão cem mil beijos, um em cada cabelo escorrido em direcção ao planeta que suporta as nossas maiores dores: ânsia e angústia.

E despedimo-nos como se o inevitável túnel de acesso à realidade fosse a menor das tragédias: com um abraço, como sempre.

sexta-feira, 8 de março de 2013

A Verdade



Todos os dias encontro pessoas amedrontadas pela sua própria existência. Têm medo de sentir a solidão inerente à sua própria condição, como se alguma elevação pudessem conseguir com determinadas leituras do mundo circundante. E mentem. Ao contrário das crianças e dos animais (sempre mais próximos da verdade), o homem adulto mente numa tentativa inútil de chegar ao sucesso e à glória. Distancia-se da verdade, do mundo, da realidade e do seu propósito último na existência.