sábado, 21 de dezembro de 2013

Último Dia


O meu último dia na terra terá menos de 24 horas. Será mais curto que todos estes passados à janela voltada para o inverno branco que cai, à mesma velocidade que estes raios de sol descarregados de temperatura.

O meu último dia na terra será mais curto e mais triste, ficará marcado por uma data que, embora minha e apenas minha, não me será dada a conhecer.

quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Profundidade


Poucas vezes vou à profundidade do que me rodeia. Poucos são os seres simples da minha vida, e no entanto vejo-os como compreensíveis e passíveis de uma absorção sem problemas... quando na realidade todos os dias assisto a um desabar de emoções que se deslocam comigo para a mais profunda velhice que me espera.

Há um vazio na minha pele e um reflexo no seu interior que se fecha e se revela mais e mais misterioso. Alguém com os seus dedos colados entre si, observando o mundo próximo, descendo pelo caminho mais curto os patamares da beleza.

Um sem número de revelações desonestas e frias são o que a minha aparência transmite. A imagem de uma ilusão, essa poderia um dia ser descrita como uns olhos que se afogam no desperdício inevitável de uma morte no destino.

terça-feira, 19 de novembro de 2013

Perdido


Perdido num imenso oceano de cores, perdido com vontade de conhecer e consciente de uma nova realidade. Regresso ao passado sem curiosidade para descobrir o que o futuro guardou para mim. Perdido e sem a mínima ideia do que será um dia a saída. Ignoro o facto mais claro e mais óbvio: não há saída.

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Dois Meses


Dois meses depois, ainda em Vilnius. À minha direita, nos 4 graus positivos de temperatura lá fora, alguns pinheiros silvestres atravessam o ar chegando com facilidade ao topo superior da troposfera.

Sonho com as ruas da cidade de Rhodes, onde vivi longe de qualquer inverno, longe da chuva, longe das fotografias que são tiradas em todos os cantos de todas as cidades. Vivo e viverei na escuridão.

terça-feira, 10 de setembro de 2013

Vilnius Depois do Almoço


Um homem parou nesta cidade com um mapa aberto entre as mãos. Alguém aproximou-se, lentamente, e ofereceu ajuda na orientação, para que o homem do mapa pudesse encontrar o objectivo com mais facilidade. É verdade que a procura faz parte de todo o processo, estar perdido pode ser por si só uma actividade carregada de prazer, mas o homem do mapa ignorou a oferta de ajuda como se ignora - nas cidades modernas, civilizadas e organizadas - um ser humano que se aproxima para pedir pão.

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Moral


Assistimos no mundo de hoje a um apelo à diversão que começa com as crianças de idade mais tenra. Desenhos animados, brinquedos e livros infantis, vários meios e canais de comunicação escondem uma realidade dos mais pequenos. A violência autêntica é há anos substituída por uma visão apelativa, falsa e perigosa de uma realidade que se quer, acredito, melhorada.

Os conceitos de guerra, dor, miséria e sofrimento, entre outros, são banalizados pelo sorriso do herói, pelo colorido que sai das armas que disparam feixes de luz aparentemente inofensiva eliminando os “maus” sem horror ou repulsa.

Escondem-se das crianças os verdadeiros horrores inerentes à guerra, preparam-se as novas gerações para o mercado, para a compra e venda, para o conflito e para a competição, deixam-se de lado o verdadeiro ensino e a aprendizagem para se impor uma visão distorcida e estreita do mundo. Desaconselha-se que se exponham as crianças à miséria alheia, à sua própria condição humana, enaltecem-se os feitos heróicos de líderes num conflito, escondendo-se os horrores da fome e da morte causados pelos dirigentes insensatos. Dirigentes esses vistos, numa grande maioria das vezes, eles próprios como heróis.

Há que mudar de paradigma, com o perigo de nos tornarmos – enquanto sociedade – numa amálgama de gente sem visão, sem sonhos e sem amor.

sexta-feira, 12 de julho de 2013

Planeta


Há uma bola azul entre as minhas mãos, pequena e suave, como aquela onde assento os pés neste momento. Solitária, apenas se deixa tocar pelos meus dedos. A resposta dada pela pequena bola azul ao meu abrir de mãos foi trágica, uma queda para o solo aberto, um planeta que me engole a pequena bola azul e me traz a tristeza de um dia cruel arrancado ao calendário.

terça-feira, 4 de junho de 2013

Jan Mayen


Temperaturas negativas dentro e fora de um barco pequeno, a motor, que desliza por entre o silêncio branco da neve eterna. A natureza agradece a minha presença oferecendo-me a paisagem mais desoladora do planeta, a ilha de Jan Mayen.

segunda-feira, 29 de abril de 2013

Ladytron - Gravity the Seducer


Três anos volvidos sobre o seu anterior trabalho discográfico, os Ladytron editaram em Setembro de 2011 o quinto álbum de originais “Gravity the Seducer” após a sua formação em 1999 em Liverpool.

Neste último disco a banda continua a explorar a ambiguidade que os caracteriza já desde os seus primeiros passos em “604”, entrando agora mais do que nunca pela abstracção e pelo alheamento de um presente estático. Classificar a música dos Ladytron de electrónica é uma redução tão forte como rotular os Beatles de reis da pop. A componente electrónica serve-lhes de cota de malha debaixo de uma armadura bem construída, leve, e fazendo parte de um tempo incerto, algures entre os anos setenta do século passado e um futuro tecnológico totalitário.

O álbum abre com a faixa “White Elephant”, apresentando desde logo uma tónica diferente do trabalho anterior (“Velocifero”), mais coeso, menos intenso, usando uma sonoridade menos sónica, talvez o mais coerente e bem alinhado disco do quarteto desde “Wiching Hour”.

Ainda que este seja um álbum bastante focado e homogéneo, os Ladytron não deixam de vacilar entre alguns extremos da sua normal abordagem estética, entre o pop glamour de “Mirage” e o pálido melodramático ambiente de “Ambulances”, ou de um “Moon Palace” que traz à memória os uniformes lancinantes de “Light & Magic” até uma faixa como “Ninety Degrees”, o espelho mais polido de um som ao mesmo tempo celestial e gélido, etéreo e emocional, tão característico deste grupo.

Este é, possivelmente, o álbum menos fácil de toda a discografia dos Ladytron, mas não deixa de ser – com toda a certeza – um marco sólido na música europeia de 2011.

quarta-feira, 24 de abril de 2013

Futuro


Uma doce e segura voz feminina ecoa pela galáxia, na direcção de uma planeta habitado. Diz-nos que num futuro paralelo o Homem libertar-se-á do trabalho que o escraviza. Irá dedicar-se apenas - durante duas a três horas por dia - a actividades que contribuam para o bem comum.

O dia de ontem encontra-se, no mínimo, a dois milhões e meio de quilómetros. O amanhã já nos toca a pele, de tão próximo que está, mesmo que a evolução do pensamento seja nestes tempos apenas (ainda) a escrava dos homens.

terça-feira, 9 de abril de 2013

Abetos ou Ciprestes em Linhas Soltas


Aos Abetos: Não vos deixo, não vos quero deixar. Não sei como irei lidar com a vossa ausência, mas não vos quero longe. À distância de um braço tenho a árvore mais alta, uma sequóia podre ou um ramo inalcançável de uma outra espécie qualquer. Mas dentro do meu corpo não tenho mais do que braços partidos de um eixo que o planeta atirou para o céu. Não irei permitir que do meu coração algum dia possa parar de jorrar amor por vós, não serão as outras árvores responsáveis pela destruição do meu cadáver, não vos quero sentir num outro continente, numa ilha do passado, ou num habitat inóspito.

Não quero menos que subir aos vossos ramos, ó Abetos, estilhaçar toda a casca que vos envolve, subir ao mais alto patamar da vossa existência e daí gritar. Gritar com os meus pulmões em sangue, salivar toda a fúria que me provocais a partir do cume da vossa eterna beleza.

Não quero nunca mais dizer um "não". Não quero ser capaz de dizer "não". E quero para sempre falar a língua das árvores.

sexta-feira, 22 de março de 2013

Azul-Lilás


Onde estás, Azul-Lilás, cor forte e pesada que me arruína a epiderme a partir do seu interior? Ainda espero por um arrependimento, um último fôlego que se transformará rapidamente em primeiro, por uma solução doce, por um cântico suave e melodioso, ainda espero por um abraço em harmonia, ainda que toda a nossa existência seja dominada pelo caos, por uma completa ausência de concordância com o mundo exterior.

Onde estás, Azul-Lilás, porque me abates a esperança de ter esperança? Deita-te comigo com o céu estrelado como paisagem. Sonha os meus sonhos, viaja comigo para metade das estrelas da constelação Leão, atravessa comigo as plêiades, leva-me para o teu universo onde tu não és mais a pessoa que foste até hoje. Onde tu és apenas eu. E onde eu sou só e só... tu.

quinta-feira, 21 de março de 2013

Amor e Levocardia


Há um coração dentro do meu corpo com várias cavidades. Aurículas e ventrículos cheios de sangue, fogo e afectos, um engenho explosivo que produz e bombeia hemoglobina em todas as direcções. Esta máquina ensurdecedora não me deixa viver, a cada segundo impulsiona toneladas de amor que se evaporam como azoto aquecido.

quarta-feira, 20 de março de 2013

Precessão dos Equinócios - ou Ausência de Liberdade


A cada 25.800 anos a projecção do eixo da Terra imprime no céu um círculo imaginário, fazendo com que o norte vagueie pelo firmamento ao longo de milénios. Daqui a uns tempos, no ano 14.000, a estrela Vega será quem substituirá a estrela Polar no centro da rotação aparente do céu nocturno do Hemisfério Norte.

Nesses tempos futuros o mundo já não será meu. Os filhos que nunca terei irão dominar o imaginário de nenhum outro Homem, assim como as úlceras eternas do meu coração serão perpétuas em nenhum universo.

Deixo um rasto de destruição pela vida de todos os que me acompanham na Era de Peixes. Prendo dentro de mim uma quantidade interminável de amor, sonhos espalhados por toda a enorme extensão de um planeta médio como o nosso. E para a ausência de liberdade que me caracteriza - e me escoria a pele a partir do interior - tenho apenas duas palavras: és tu.

domingo, 17 de março de 2013

Aldeia Longínqua

Não há lugar dentro de mim para muito mais. Já tudo está ocupado pela presença de um espectro que vive nas imediações do espaço que ocupo. Num mundo irreal partilhamos a criação do universo, ligamo-nos átomo a átomo, juntamos o corpo um do outro para que dali possa surgir um rompimento com o espaço-tempo.

Dentro de um olhar estão cem mil beijos, um em cada cabelo escorrido em direcção ao planeta que suporta as nossas maiores dores: ânsia e angústia.

E despedimo-nos como se o inevitável túnel de acesso à realidade fosse a menor das tragédias: com um abraço, como sempre.

sexta-feira, 8 de março de 2013

A Verdade



Todos os dias encontro pessoas amedrontadas pela sua própria existência. Têm medo de sentir a solidão inerente à sua própria condição, como se alguma elevação pudessem conseguir com determinadas leituras do mundo circundante. E mentem. Ao contrário das crianças e dos animais (sempre mais próximos da verdade), o homem adulto mente numa tentativa inútil de chegar ao sucesso e à glória. Distancia-se da verdade, do mundo, da realidade e do seu propósito último na existência.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Partilha


Alguns pensamentos desorganizados dançam em toda a extensão do espaço vazio onde me movimento. Num outro extremo, o meu coração transborda de emoções e aproxima-se, a grande velocidade, de todos aqueles que partilham um planeta comigo.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Desejos

Todos os dias alguém nos diz aquilo que as pessoas querem. Mas, nesses discursos, nunca pessoa alguma adivinha aquilo que eu quero.

terça-feira, 15 de janeiro de 2013